segunda-feira, março 14, 2011

A maior conversa de café de sempre

Fui com alguns dos habituais da tasca à manifestação de dia 12. Não por convicção mas por estar no sitio certo à hora certa. No entanto nunca me senti a destoar da maioria nessa minha condição de acaso.
Após algumas horas e uma fuga forçada pela chuva - o que reforça o elevado sentido de militância - fiquei com a clara sensação que tinha presenciado a maior conversa de café de sempre.
Cartazes com pedidos dispares - vi referências à reforma agrária ou um mais directo Fuck the System -; bebedeira em larga escala; fotos para o facebook; revoltas vazias contra a passagem de carros de maior celindrada - "deves viver bem tu" - ; olhares aborrecidos em direcção ao meu saco com discos (já agora eram dos MFSB e Lee Perry) mas sobretudo uma dúvida geral de não saber o que fazer ajudaram-me e muito a solidificar a minha desconfiança inicial.
Acho o principio da manifestação positivo e um bom sinal de democracia mas não passou de um balão cheio de nada. A elevação de duas personagens de um programa de humor, ladeados por um concorrente da Casa dos Segredos, a icones de tudo isto - "tenho de descarregar aquela de e o povo pá" era a conversa mais ouvida no pós - sinceramente não ajuda a afastar a ideia que fiquei depois de ler o manifesto que a manif acima de tudo era uma cena diferente para se fazer sábado e que desde inicio nunca foi muito levada a sério nem bem construida - o que se entende pela falta de hábito da coisa.
No fim fica a ideia positiva de um potencial principio de constestação democrática e apartidária aplicado às novas gerações e ao estado do país, mas muito ferida pela absoluta desorientação e vacuidade do protesto.

6 comentários:

  1. Foi a sensação que fiquei ao ver as imagens e ao ouvir alguns comentários dos manifestantes. A parte positiva foi mesmo o que referiste. É de realçar. Ouvi também alguns testemunhos preocupantes. Mas a maioria serviu para descredibilizar... Estamos já numa situação económica/social insustentável, com uma elevada taxa de desemprego, a precaridade laboral é uma realidade preocupante e precisamos de uma rápida e eficaz mudança mas ainda há muita gente sem qualquer capacidade crítica/reinvindicativa. O problema é que tenho medo destas pessoas, pois ao som de uma oratória fácil, demagoga e competente, são gente para seguir um radical. O que safa é que quando chegar à hora, estou convencido que eles não saem de casa para votar.

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  2. Adorei a tua descrição da manif e concordo com as críticas feitas, mas também acho que é importante começar por algum lado, mesmo sem a experiência neste tipo de coisas, como referiste e bem. Na minha opinião, na generalidade das pessoas que manifestaram, fica patente o discurso de uma situação que começa a ser desesperante, o que já mostra um descontentamento e uma vontade de mudar. Pode ser que haja consequências.
    Como é normal num universo tão vasto de manifestantes, há sempre aqueles que não fazem a mínima idéia o que estão a fazer, apenas acham que "é uma cena fixe".
    Em todo o caso, acho que é de realçar positivamente a manif.

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  3. acompanhei a dita manif pela RTPN e até pela TV cheirava a ganza... :-D

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  4. Bem já e um pouco tarde para um comentário mto alargado, mas apenas queria dizer que nunca achei que este pais tinha MTS iluminados e muito do que se passa hj e culpa daqueles que nem sequer vão votar nos momentos decisivos p o pais. A situação e péssima mas e preciso saber porque se chegou aqui e não estar simplesmente a fazer barulho e a fazer comentários generalistas de descrebilizacao! A manif vale pelo movimento e por uma suposta vontade de mudar...falta só arregaçar as mangas para esta dura, comprova e (ir)reversivel batalha!
    Quanto a ganza ...humm...tb me cheirou a qq coisa

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  5. Num pais acomodado a empregos foi curioso ver miúdos e graúdos a gritar por trabalho. Fez-me questionar, será que vamos deixar de ser complacentes? Não sei mas não senti a "força" e como disse o nosso amigo "leite magro", convicção. Fica o sonho de mudar.

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