terça-feira, novembro 28, 2006

Rins e Companhia

Ora cá está um tema que posso comentar (uma vez que se insere nos conteudos que ando a estudar). É verdade que temos dois rins, e sobrevivemos perfeitamente só com um e por vezes sem nenhum, à custa de qualidade de vida, perdida pelas idas aos centros de diálise. Se é verdade que doar um rim é, nos moldes actuais, um acto de altruísmo, poderá passar a ser um acto desesperado de resolver problemas financeiros que até poderá ser uma opção aceitável se a doação não venha a trazer ao doador os mesmos problemas que resolveu ao receptor alguém ao vender o seu rim. É verdade que a cirurgia não tem riscos de maior e que a maioria dos doadores vivos que hoje em dia entram nas estatística não tiveram quaisquer problemas nos 20 anos seguintes. Também é verdade que temos dois rins porque precisamos com muita frequência da reserva que eles nos dão. Podemos viver sem problemas com 50% da função renal, mas a partir daí começamos a ter alterações. Ora se doarmos um rim, ficamos automaticamente com metade da referida função renal e sem grande margem de manobra para quaisquer patologias que venhamos a ter. Doenças tão comuns como diabetes, hipertensão, situações que provoquem diminuição da oxigenação renal como uma infecção grave ou patologia cardíaca ou mesmo o tabagismo que provoca alterações nas artérias. O que acontecerá a esta pessoa (que talvez pelo facto de ter dificuldades financeiras) vende um dos seus rins e depois vem a precisar de um 15 anos depois? Vai pedir o seu de volta? Terá de o comprar um com o dinheiro que ganhou a vender o seu? Ou será o estado a comprar os rins como diz o Juã? Já agora, vejam este vídeo! Os nossos conterrâneos no seu melhor, internacionalmente disponível no YouTube.

6 comentários:

  1. Elucidaste-nos sobre o risco que acarreta a doação de orgãos, e sobre alguma inevitável perda de qualidade de vida. No final fiquei sem perceber qual a tua opinião. Um abraço e continuação de bom estudo.

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  2. Pois, não deixei a minha opinião porque esta questão deixa-me num dilema moral e científico e deixo abaixo as razões que me levam a manter as dúvidas:

    1 - Até agora os transplantes de dadores vivos não-aparentados não é permitido em Portugal e na maioria dos outros países, mas se assim o fossem, será que haveriam dadores voluntários com intuito unicamente altruísta, tal como acontece com as doações de sangue ou será que só surgiriam movidos pelas contrapartidas financeiras, esquecendo os riscos que correm ao limitarem à partida a sua reserva renal.

    2 - Em 2003, nos EU, a mortalidade por 1000 pacientes foi de 209,1 para os submetidos a Hemodiálise, 186,3 para os submetidos a diálise peritoneal (um método que permite ao doente ser ele próprio a fazer a sua diálise em casa) e 21,5 para os submetidos a transplante. É sem dúvida uma grande diferença, morrem menos 90% dos submetidos a transplante, mas também há-que contar com os critérios de inclusão para transplante, sendo que muitos dos que morrem em diálise não seriam aceites para transplante mesmo que houvesse órgãos em excesso (pelo menos órgãos de dadores vivos). Será que se as amostras fossem semelhantes a diferença seria assim tão significativa?

    3 - Apesar de não causar tantas limitações como a diálise, o transplante também implica complicações na medida em que é necessária uma imunossupressão, com todas as consequências da mesma (maior incidência de tumores, infecções complicadas e falência do enxerto).

    É sem dúvida importante aumentar o número de rins disponíveis para transplante, mas a que custo? Será que esta liberalização do "mercado orgânico" é a solução mais ética e o caminho certo a seguir? Não sei...

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  4. Compreendo o teu ponto de vista, quando dizes, que é um dilema moral.Cientifico, penso que todas as situações que abaixo expões(imunossupressão, possibilidade de rejeição,etc), são óbvias qdo se faz um transplante. Mas pesando riscos e beneficios...o transplante sai vencedor.Só mais uma questão:não falo de liberalização:teria que ser algo fortemente regulamentado. Mas também acho que é uma situação moralmente muito melindrosa. Contudo, penso que merece reflexão.
    Foi um bom tópico para iniciar uma boa discussão aqui no blog.

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  5. Como disse acima, não sei até que ponto o transplante é tão melhor que a diálise que justifique estas medidas. É verdade que os dados relativos a mortalidade que temos dão vantagem ao transplante, mas as amostras não são iguais. Não sei se a mortalidade de pessoas com condições para transplante mas a fazer diálise são tão diferentes das dos transplantados e se a sobrevida é tão menor. Pode ser que sim, mas não tenho estes dados.

    Outro bom tema a discutir seria o aborto, tão badalado nos últimos tempos, o que dizem?

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  6. Meus caros, li atentamente todas as sábias opiniões que deixaram sobre o controverso tema dos rins. Quero desde já, mandar um “bacalhau” de apreço ao Doutor Philip pelas explicações técnicas que elucidou e para as questões pertinentes que deixou, à reflexão de todos.
    Penso que todos nós já compreendemos que um doador pode viver só com um rim, que o risco da cirurgia é diminuto, que as listas de espera iriam diminuir, que o tráfico seria controlado e que claro, o mais importante de tudo, vidas seriam salvas. Contudo, penso que o que falta debater prende-se nestas perguntas; tudo isto à custa de quem? E com que consequências?
    Está claro, e todos os que comentaram são da mesma opinião, serão sempre os pobres a vender os seus rins, e nunca a “ceder” como pensa o Augusto, pois sou da opinião que a decisão de doar, nos moldes que estamos a discutir, não nasce de um acto de altruísmo, como deveria, mas sim de um acto de desespero. Por isso, acho que o divino acto de salvar uma vida será a última coisa que o doador vai pensar, se pensar! Logo, parece-me muito pouco ético que nos aproveitemos dessas pessoas. Para além disso, e como o Philip bem exemplificou, são inúmeras as limitações que um doador “ganha” depois da cirurgia, deixando este de viver, para passar a “sobreviver perfeitamente”, escutem bem, sobreviver! E mais vos digo, como pensam que vai ficar o pobre depois de perder a maior das riquezas, a saúde? Como vai ele trabalhar? Que trabalho vai ele fazer? Quem vai ajuda-lo se o seu outro rim deixar de funcionar? Quem vai pagar os medicamentos que ele poderá necessitar? (não se esqueçam que ele não tem dinheiro)
    Desta forma, vejo nesta politica um lado perverso, no sentido que num futuro próximo (15 – 20 anos) em vez de um órgão vamos necessitar de dois, o que pode transformar-se num problema em espiral e no facto, de puder ser o principio de um problema social grave. Assim, sou 80% não e 20% sim….

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